Joaquim Moita Coordenador do Centro de Medicina do Sono do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Presidente da Associação Portuguesa de Sono Maio 2017
A Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) é uma perturbação respiratória caracterizada por pausas respiratórias (apneias) durante o sono, com duração superior a 10 segundos e que se repetem mais de 5 vezes por hora. Resultam do colapso intermitente da hipofaringe, estrutura que se situação atrás da língua.
Os doentes com SAOS têm um risco elevado de desenvolver ou agravar a doença cardíaca, a diabetes, o acidente vascular cerebral e mesmo o cancro, em particular o cancro da pele (melanoma). A SAOS é muito frequente. Estima-se que 25% dos portugueses sofram da doença. Atinge todas as idades, incluindo as crianças onde o ressonar persistente deve motivar uma consulta médica. É mais frequente homens a partir dos cinquentas anos. Depois da menopausa a prevalência nas mulheres é idêntica. Os sintomas nas mulheres são ligeiramente diferentes dos homens: queixas de insónia frequentes, distúrbios cognitivos e psiquiátricos diurnos. Estes sintomas são muitas vezes desvalorizados e o diagnóstico é tardio. A obesidade, cuja prevalência em Portugal é de 15%, é apontada como principal fator de risco para desenvolver a Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS). Outra causa, menos valorizada é a presença de alterações anatómicas a nível da via aérea, da face e do pescoço. São visíveis na criança, e nessa altura muitas podem ser corrigidas. A SAOS já é conhecida entre a população. Para além da divulgação que tem sido feita ao longo da última década, a SAOS “ouve-se”, ou seja, sabe-se que o ressonar pode ser grave, sobretudo quando associado a apneias e sonolência diurna. Os utentes procuram solução junto do médico de família e estes encaminham os doentes para o hospital. O grande problema está na falta de recursos humanos e técnicos a nível hospitalar (pneumologista e especialistas em medicina do sono) capazes de diagnosticar e iniciar o tratamento atempado dos doentes. É importante que a população exerça pressão para que este constrangimento seja ultrapassado.
Na verdade, estamos perante uma doença que sendo grave, é tratável. Os dispositivos de avanço mandibular (DAM, goteiras para uso durante o sono) podem e devem ser propostos a ressonadores ou doentes com SAOS ligeiro (menos de 15 apneias por hora) sem complicações cardiovasculares. Para as formas graves o dispositivo de pressão positiva contínua (CPAP) é o tratamento de eleição. Com o CPAP as apneias e o ressonar desaparecem, o oxigénio e dióxido de carbono normalizam. Os microdespertares que acompanham as apneias desaparecem e a fragmentação do sono é corrigida. Há um aumento imediato de sono profundo. A sonolência diurna excessiva que está relacionada com a fragmentação do sono, regride. O raciocínio e a memória melhoram. O mesmo com a depressão e a ansiedade que frequentemente acompanham a doença. O CPAP contribui decisivamente para a recuperação da disfunção eréctil que a maioria dos homens com a doença apresenta. A hipertensão arterial durante o dia tende a estabilizar ou mesmo a diminuir. O risco de doença cardíaca e AVC diminui. O CPAP é proposto a indivíduos com mais de trinta apneias por hora, ou aqueles que tendo um SAOS com um número menor de apneias têm sintomas graves de doença cardíaca ou sonolência diurna. Os atuais equipamentos têm dimensões e peso reduzidos; facilmente transportáveis. São silenciosos. E dispõem de mecanismos que tornam a adaptação do doente muito fácil. O tratamento com DAM ou CPAP deve ser complementado. As alterações do nariz e da faringe devem ser corrigidas e as regras de higiene de sono e estilo de vida saudável têm que ser encorajadas.