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mar 02, 2021

Com os olhos postos no céu: de que forma a colaboração virtual poderá melhorar o acesso aos cuidados de saúde em todo o mundo

By Bich Le
Global Business Leader Ultrasound and Head of Ventures Precision Diagnosis

Estimated reading time: 10-12 minutes

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou que dois terços da população mundial não têm acesso à tecnologia básica de imagiologia médica, o que provoca atrasos evitáveis e, por vezes, fatais no diagnóstico e tratamento das doenças. [1] E se conseguíssemos colmatar estas lacunas na prestação de cuidados de saúde... de forma virtual?

 

Sendo mãe, e tendo tido a felicidade de usufruir da melhor tecnologia e conhecimentos médicos quando tive complicações no parto, continuo a ficar abismada com estes dados. Todos os dias, mais de 800 mulheres em todo o mundo morrem de complicações na gravidez e no parto. Embora a maior parte destas mortes ocorra em países com baixo ou médio nível de rendimentos, a taxa de mortalidade materna em países desenvolvidos, como os EUA, também não apresenta valores nada animadores, sendo estes estes desproporcionalmente mais elevados em zonas rurais. [2,3]. O que é profundamente lamentável é que muitas destas mortes poderiam ser evitadas – bastaria que estas mulheres tivessem acesso a uma ecografia de rotina, que permitisse detetar quaisquer complicações numa fase mais precoce da gravidez, [4].

 

E não se trata do exemplo isolado.

 

Ter acesso à tecnologia de imagiologia médica - quer se trate de uma simples ecografia ou radiografia ou de modalidades mais sofisticadas, como um TAC ou uma ressonância magnética – pode fazer a diferença entre a vida e a morte. Basta pensarmos nas inúmeras vidas que têm sido salvas com mamografias e rastreios pulmonares de rotina.

 

Atualmente, porém, dois terços da população mundial não têm acesso nem sequer à tecnologia de imagiologia básica. Mesmo nos países carenciados onde a tecnologia está disponível, o que muitas vezes falta são mãos habilitadas para trabalhar com esta tecnologia e olhos experientes para interpretar os resultados. Por outro lado, as deslocações à unidade de saúde mais próxima, devido à longa distância e ao custo envolvido, poderão ser impraticáveis para muitos pacientes. A esta dificuldade acrescem as preocupações de segurança relacionadas com a COVID-19. Verificam-se, por isso mesmo, atrasos nos testes, diagnósticos e tratamentos, o que aumenta os custos a jusante para os sistemas de saúde e agrava o risco de efeitos nefastos para os pacientes.

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Não se trata, porém, de uma inevitabilidade.

 

Para os pacientes que habitem em comunidades remotas e carenciadas, bem como para os prestadores de cuidados de saúde que têm dificuldades em servi-los, há uma nova esperança no horizonte. Agora podemos levar melhores cuidados aos pacientes, através de uma colaboração virtual que presta apoio remoto à equipa local. Vamos ver de que forma se aplica esta tenologia.

A formação à distância proporciona assistência especializada às comunidades locais

 

A OMS recomenda que todas as mulheres grávidas façam pelo menos uma ecografia, de preferência nas primeiras 24 semanas de gravidez, para estimar com precisão o tempo de gestação, detetar anomalias fetais e, de modo geral, melhorar a experiência de gravidez da mulher. Todavia, nas vastas áreas rurais do Quénia, onde há falta de ecografistas experientes e onde as mulheres grávidas podem ver-se obrigadas a percorrer longas distâncias, durante muitas horas, até ao hospital mais próximo, a concretização dessa recomendação ainda está longe da realidade.

 

É por isso que a Philips Foundation, em parceria com clínicas e com o Ministério da Saúde local, está a levar a ecografia portátil até unidades de cuidados primários, para junto de parteiras devidamente formadas, estabelecendo uma ligação entre estas unidades e especialistas experientes que trabalhem em hospitais urbanos. Conjugando a formação presencial com a formação remota e com a colaboração em tempo real por meio de um sistema de vídeo, as parteiras conseguem adquirir as aptidões e a confiança necessárias para efetuar um rastreio obstétrico básico de rotina, o que lhes permite prestar melhores cuidados de saúde e identificar mulheres de alto risco que necessitem de um tratamento atempado num centro de saúde adequado. Desta forma, estas mulheres têm muito maior possibilidade de trazer ao mundo uma criança saudável.

 

A colaboração virtual, porém, não se resume ao que ficou descrito, fazendo parte de um ecossistema digital completo de cuidados interligados, no qual todos os dados relevantes da paciente – incluindo testes de laboratório e dados das ecografias – podem ser partilhados em qualquer local, permitindo um diagnóstico assistido e uma monitorização remota.

connected ecosystem maternal care

Um ecossistema de cuidados maternos digitalmente integrado permite que os médicos, parteiras e profissionais de saúde da comunidade partilhem dados de pacientes e consultem os seus colegas em modo virtual para fazerem diagnósticos remotos.

 

Por meio de uma simples aplicação móvel, as parteiras podem elaborar um perfil de saúde de mulheres grávidas, recolhendo dados de exames físicos em unidades de cuidados primários ou até na casa da futura mãe. Com base nestes dados é gerada uma pontuação de risco, que pode ajudar os prestadores de cuidados de saúde a identificar as mulheres que precisem de cuidados suplementares. Além disso, as mulheres grávidas podem participar nos seus próprios cuidados através de uma aplicação educativa que fornece indicações relacionadas com a gravidez. A aplicação também lhes permite rastrear dados como a contagem de pontapés ou movimentos fetais, sintomas de gravidez e medicação e partilhá-los com os prestadores de cuidados de saúde, proporcionando um quadro mais completo sobre a evolução da gravidez.

 

Através deste modelo baseado na nuvem (cloud), os obstetras e ginecologistas autorizados poderão observar pacientes a partir de qualquer local.

 

No Quénia, a Philips Foundation, juntamente com a Amref International University, da Amref Health Africa, tem vindo a testar esta tecnologia e, neste momento, está a trabalhar com o Aga Khan University Centre of Excellence in Women and Child Health ("Centro de Excelência em Saúde Materno-Infantil da Universidade Aga Khan"), para avaliar de forma mais sistemática o seu impacto nos resultados clínicos. As experiências iniciais são extremamente animadoras, mostrando como parteiras com formação adequada, em unidades de cuidados primários – com o apoio remoto apropriado –, podem desempenhar um papel fundamental em todo o processo de deteção precoce, diagnóstico e acompanhamento da gravidez e das complicações relacionadas com a mesma. Este processo apresenta uma vantagem adicional, pois todos os dados das pacientes são partilhados de forma digital, sem desperdício de papel, o que torna esta tecnologia igualmente mais ecológica. Todos os intervenientes saem beneficiados.

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No Quénia, as parteiras que trabalhem em centros de saúde situados em zonas rurais já podem efetuar ecografias básicas em mulheres grávidas e partilhar os dados remotamente para obter colaboração virtual (Fotos: Amref Health Africa)

 

O que me impressiona mais neste tipo de modelo de formação remota é que não se trata de um mero expediente temporário, pois fomenta o conhecimento local e proporciona as aptidões necessárias para ajudar a melhorar o acesso aos cuidados de forma duradoura e sustentável, exatamente onde é necessário, no seio das comunidades.

 

Imbuída do mesmo espírito, a Philips Foundation forneceu aos médicos de medicina de emergência dos hospitais dos EUA uma plataforma para prestar formação aos seus homólogos no Peru, para a realização de ecografias rápidas (POCUS) através de colaboração virtual ao vivo. Os médicos peruanos que receberam esta formação passaram a exercer um papel fundamental na formação dos seus colegas locais. Durante a pandemia, estes formadores locais exerceram igualmente um papel de liderança na utilização de POCUS para apoiar o diagnóstico e as orientações de tratamento para pacientes com COVID-19.

 

Poderá obter mais dados sobre esta colaboração transcontinental no vídeo seguinte:    

YouTube Acces to Care

Ecografias à distância ao encontro dos pacientes

 

Em países desenvolvidos, como os EUA, a disponibilidade dos conhecimentos técnicos de imagiologia poderá ser superior, mas muitas vezes apresenta assimetrias, consoante se trate de zonas urbanas ou rurais, e este problema tem tendência para piorar. Por exemplo, nos cuidados maternos, estima-se que, nos EUA, a escassez de obstetras, ginecologistas e especialistas em medicina materno-fetal (MMF) altamente qualificados irá aumentar mais do triplo entre 2020 e 2050, sobretudo nas zonas rurais. Hoje em dia, nas zonas rurais dos EUA, em cada 10 mulheres, já há mais de 1 que se vê obrigada a percorrer mais de 160 quilómetros para ter acesso a serviços obstétricos. [3]

 

A colaboração virtual também poderá fazer parte da solução nestes casos. Por meio de uma plataforma de colaboração em tempo real integrada num sistema de ecografia, um ecografista experiente que trabalhe num hospital urbano poderá ajudar remotamente o seu homólogo local a realizar uma ecografia, enquanto um especialista de MMF poderá utilizar a mesma plataforma para discutir com a paciente o seu estado clínico. Passará a ser indiferente se a paciente está sentada ao lado dele na mesma sala ou numa clínica na outra ponta do estado. Virtualmente, o especialista em MMF estará sempre por perto.

Virtual training

A grande vantagem deste processo é o facto de poder tornar os cuidados especializados mais acessíveis em termos de distância e preço, melhorando de forma consistente a qualidade dos cuidados e reduzindo os riscos de segurança associados à COVID-19. Para as pacientes, obter instantaneamente a opinião abalizada de um especialista – em vez de ter que esperar uma ou duas semanas – também contribui para reduzir o seu nível de stress e ansiedade.

 

Futuramente, poderemos até imaginar uma enfermeira a fazer uma ecografia de rotina em casa ou numa clínica local, utilizando o tipo de dispositivo portátil que já existe atualmente, com um ecografista especializado a analisar remotamente o trabalho da enfermeira e, com recurso à inteligência artificial, a obter dados básicos a partir da ecografia. Na era pós-COVID-19, na qual as pacientes terão a expetativa de receber cuidados de saúde perto de casa, esta tecnologia irá proporcionar uma nova forma de efetuar o diagnóstico e o tratamento.

 

E não é apenas a ecografia que ficará mais disponível por meio da orientação e formação remotas. Há outras modalidades de imagiologia que enfrentam problemas semelhantes de escassez de pessoal especializado, em que a virtualização também irá ajudar a distribuir os conhecimentos técnicos de modo mais uniforme em todos os locais, melhorando assim o acesso aos cuidados de saúde.

A radiologia virtual aumenta a disponibilidade da imagiologia especializada

 

Ao contrário do que acontece com um dispositivo de ecografia portátil, não podemos levar para casa das pessoas um aparelho de ressonância magnética que pese sete toneladas. O que podemos fazer, porém, é ligar virtualmente especialistas de imagiologia que trabalhem numa unidade central – a que chamamos Centro de Comando de Operações de Radiologia – a técnicos de imagiologia que trabalhem com esses aparelhos em centros de saúde.

 

Este modelo hub-and-spoke em nuvem permite a colaboração em tempo real e o apoio em tempo real de utilizadores especializados com colegas menos experientes ou menos especializados em localizações remotas, quando o paciente está a ser submetido à ressonância. Desta forma, é possível não só ajudar a padronizar a qualidade da imagem, como também tornar a imagiologia avançada, como a ressonância magnética e o TAC, acessível em mais sítios, mais perto do local de residência dos pacientes, em horários mais flexíveis. Futuramente, um centro de comando desta natureza poderá até operar a nível internacional, para apoiar a utilização da imagiologia onde e quando for necessário.

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Da mesma forma, quando se trata da elaboração de diagnósticos por interpretação imagiológica, os serviços remotos serão fundamentais para chegar a comunidades carenciadas. Nos últimos meses, a telerradiologia revelou-se particularmente valiosa no tratamento dos atrasos na despistagem do cancro da mama, a qual, em grande medida, foi suspensa durante o período mais crítico da pandemia. [5] Sobretudo em zonas geograficamente desfavorecidas, onde exista escassez de radiologistas especializados, ter acesso remoto a um especialista em imagiologia ginecológica e mamária pode fazer uma enorme diferença para conseguir que os resultados das mamografias sejam mais rápidos. E sabemos que o tempo de resposta é fundamental: quanto mais cedo detetarmos um cancro, melhor será para os pacientes, para os prestadores de cuidados de saúde e para os sistemas de saúde.

Saúde para todos no futuro

 

Naturalmente, quando se trata de um desafio tão complexo como melhorar o acesso aos cuidados de saúde, a tecnologia não constitui uma resposta por si só. Se há algo que aprendemos é que constituir parcerias locais fortes e desenvolver novos modelos de negócios é igualmente importante. O que mais impressiona a respeito da virtualização da imagiologia é que, juntos, podemos começar a pensar em imprimir um rumo totalmente diferente aos cuidados de saúde, disseminando o conhecimento e integrando a informação através de configurações, sempre com o paciente no centro das atenções.

 

Espero muito sinceramente que todos os pacientes venham a ter acesso ao nível adequado de cuidados de saúde, independentemente da distância entre o seu local de residência e o centro de saúde mais próximo. Ainda não chegámos lá, mas já demos grandes passos na direção certa. E a partir deste momento, em que as distâncias físicas começam a deixar de ser um impedimento tão forte como outrora, surge certamente uma nova perspetiva de saúde para todos os utentes. 

 

Referencias:
[1] Morris, M.A., Saboury, B. (2019). Access to Imaging Technology in Global Health. In: Radiology in Global Health, 15-33. https://link.springer.com/chapter/10.1007/978-3-319-98485-8_3

[2] World Health Organization (2019). Maternal mortality: key facts. https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/maternal-mortality

[3] Center for Medicare & Medicaid Services (CMS) (2019). Improving Access to Maternal Health Care in Rural Communities. https://www.cms.gov/About-CMS/Agency-Information/OMH/equity-initiatives/rural-health/09032019-Maternal-Health-Care-in-Rural-Communities.pdf

[4] Dagnan, N.S., Traoré, Y., Diaby, B., Coulibaly, D., Ekra, K.D., Zengbe-Acray, P. (2013). The use of ultrasound to reduce maternal and neonatal mortality in a primary care facility in Ivory Coast. Sante Publique, 25(1):95-100.https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23705340/

[5] Naidich J.J., Boltyenkov A., Wang J.J., Chusid J., Hughes D., Sanelli P.C. (2020). Impact of the Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) Pandemic on Imaging Case Volumes. J Am Coll Radiol, 17(7):865-872.https://doi.org/10.1016/j.jacr.2020.05.004

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Global Business Leader Ultrasound and Head of Ventures Precision Diagnosis

Bich Le leads Philips global ultrasound business as well as Philips Precision Diagnosis Ventures. She is dedicated to expanding access to care and improving patient outcomes across the globe.

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